sexta-feira, 11 de maio de 2007

Reflexões da Gente...

Li este texto há dois dias, e ainda me sinto desconcertada.
Por motivos óbvios, e por motivos sutis também.

Eu e meus arroubos utópicos sociais... que não sai onde vão parar, o quanto durarão, ou sequer a que vieram e como começá-los todos.
Eles estão comigo o tempo todo, e como sombras, como minha própria sombra a todo momento me acenam, e com rostos passíveis demonstram que vão aguardar mais um pouco. Entendem minha sempre pressa, sempre mil coisas, e eu entendo suas frustrações. Ambos entendemos nossas incertezas.
O tapa na cara, daqueles que diz assim: "toma este bitchslap!", é o desfecho mesmo.

Não, nem dá tempo de desfechos mea culpa, a coisa é simples mesmo.
Fico pensando.

Lembro do karma yoga.
No Bhagavad Gita, Sri Krishna, uma encarnação do deus Vishnu (o que sempre vem com boas novas aos homens) repete-se várias e várias vezes tentando fazer o pobre diabo do Arjuna, um arqueiro, meio covarde - meio temperamental, que ele deve agir certo antes de mais nada. E que isso basta a si mesmo. Não é o "agir certo porque logo vem o fruto" ou "não peques porque herdarás o paraíso". Krishna vende a idéia de que "Faça o certo e dê-se por satisfeito. O que vem depois não é pra ti, rapá!" No meu parco entendimento essa é a essência do karma yoga. Esqueça toda a lenga-lenga de acumular boas atitudes para pagar as más cometidas no passado, o buraco é infinitamente mais embaixo que essa fórmula ridícula.

Mas o karma yoga só funciona com a bhakti yoga.
Arjuna é encorajado a travar uma guerra contra toda a sua comunidade, família, amigos e todos os mais que residem naquele lugar. Nó! E a narrativa se passa numa única noite, o temeroso Arjuna só tem algumas horas pra entender aquelas verdades, e se decidir por agir ou fingir que não ver toda a sordidez, mesquinharia e corrupção em que ele e seu povo sucumbem. A única clemência do deus-flautista Krishna é a de vir a terra exclusivamente para aquela aula. Não tem paraíso depois, nem céu, nem inferno e nem oscar ou honra ao mérito.
E Arjuna... de pernas bambas e chorando feito um bebê... vai.

A bhakti que falei é isso ai, é essa sensação que as palavras não descrevem, mas que de alguma forma dão aquele impulso mínimo para fazer o que é certo. Sabe aquela rápida certeza de que, mesmo que não tenha nada depois disso, ou sabe-se lá se sairá com vida, mas que tranquiliza o peito dolorido.

Acho Cristo o exemplo puro de bhakti.
É, pra dizer em poucas linhas, essa esperança sem forma ou tamanho, mas suficiente para motivar cada novo passo, nova palavra, novo milagre. Do nascimento a morte. Passando sim, não sejamos tolos, pelo monte das oliveiras, numa penosa e solitária noite. E descendo ao calvário para uma morte humilhante.

Isso aqui não se trata de apologia ao mártir não, acho que nunca tive tanta certeza que isso ou é pra herói ou é pra idiota, e hoje em dia isso não cola mesmo.

Acho que independente do nome que leve, bhakti, karma, evangelho ou às conclusões que o Paulo Mendes naquele texto ali chegam, perspassam de forma simples mas de prática contudente a vida.

O dia-a-dia.

A mim, a você e a todo ser que nasça filho de humanos nesta terra.


Ao som de King Without a Crown - Matisyahu
Fim de tarde brasiliense, de mais uma sexta.


Foto: do meu arquivo pessoal

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