Olá pessoas! O texto que escrevi abaixo, Amante do Vento II, foi inspirado no texto de um amigo. Portanto, para entender melhor a história, leia o Amante do Vento, no blog http://sociologiaindependente.zip.net , de Farelo Martinez.
Boa viagem!
Carolina Borges (Orieta Valentim...)
segunda-feira, 4 de junho de 2007
Amante do Vento II
Foi num sonho que senti aquele sopro pela primeira vez. O sopro que me arrepiou a alma irremediavelmente, despertando todos os sentidos, me tirando do torpor daquela vida inútil, fútil. Comandada e vigiada por meu marido e senhor, tudo o que ouvia, o que consumia, o que falava, colaborava para morte lenta dos meus sentidos.
E os passos ritmados dos soldados, os gestos repetidos de submissão dos servos, a arrogância burra das outras damas, enfim, a puritana e triste alta sociedade, de repente começou a me divertir, porque enxergava neles o que antes também me faltava, uma vontade corajosa de dar aos sentidos importância maior do que as aparências permitiam.
Naquele dia decidi entrar na cozinha e explorar os sabores que os servos conheciam quando estavam livres dos gestos de submissão calculada. O ambiente estava tomado por um cheiro picante e ao mesmo tempo adocicado. Muito diferente da comida servida todos os dias no almoço e jantar, pois meu marido, desculpe, meu senhor, não podia com muito sal, nem com pimenta, alho, cebola, cravo, alecrim...nosso cardápio diário era tão tedioso quanto a própria vida.
Foi aquele sopro que me despertou para o aroma que vinha da cozinha já tarde, quando eu, com uma insônia crônica, passava as noites a me perguntar se a vida era só aquilo mesmo. Me aproveitei do susto dos servos quando adentrei o ambiente proibido da cozinha, numa noite sem lua, e ordenei que preparassem a receita que me atormentava há dias. Queria saborear aquele quitute de aroma doce e picante. Os servos hesitaram por um momento, mas percebi um brilho diferente, no tempo de um instante, nos olhos da senhora de longos e negros cabelos que preparava a comida, a nossa e a deles.
O que ela me serviu foi um caldo avermelhado, que duvidei ser o dono daquela aroma. Falei um pouco alto, não tanto que acordasse meu marido, mas o suficiente para assustá-los e fazê-los entender que queria mesmo provar daquele misterioso sabor. Os outros se assustaram, mas a mulher não, me estendeu novamente o pote com o caldo avermelhado e sorriu maliciosamente. Levei lentamente o líquido quente a boca e provei. Um sabor mais picante que doce desceu minha garganta aquecendo meu rosto e fazendo minhas faces corar. E de repente me senti flutuar, não calmamente, mas em meio a um vento forte e refrescante, que revirou meus cabelos e o vestido de dormir. A mulher agora ria indisfarçadamente um riso alto e sonoro, e da boca dela saiam borboletas prateadas e douradas, milhares delas, que me envolveram tocando minha pele e me fazendo arrepiar. Eu ouvia a música que saia da risada dela e sentia o arrepio das borboletas, e foi então que tive a sensação do sonho e o mesmo sopro me fez lembrar do toque dos mágicos insetos.
A confusão despertou meu marido que desceu chamando pelos guardas. Quando ele chegou, eu já estava no chão, os cabelos revirados, o vestido bagunçado deixando minhas pernas quase que totalmente a mostra. Percebi então, pelo espanto e indignação de seu rosto, que eu estava só. Todos os servos haviam fugido. Imediatamente ele expulsou os guardas ordenando que esquecessem aquela cena. Admiravelmente não senti medo algum, uma sensação de liberdade infinita tomava conta da minha mente. E antes que ele pudesse falar qualquer coisa, acabei de tirar meu vestido e o envolvi com meu corpo...
Aquele foi o último dia que o vi. Hoje sou parte do vento, e não tenho um senhor. Mas visito, em noites sem lua, um cavalheiro solitário, que emana de seu corpo uma energia poderosa, que é viril mas se entrega a mim como um menino, curioso em desvendar meus sentidos. E que tem o poder de ouvir os segredos do vento quando repousa seu rosto em meus seios após uma noite de amor.
(Orieta Valentim)
E os passos ritmados dos soldados, os gestos repetidos de submissão dos servos, a arrogância burra das outras damas, enfim, a puritana e triste alta sociedade, de repente começou a me divertir, porque enxergava neles o que antes também me faltava, uma vontade corajosa de dar aos sentidos importância maior do que as aparências permitiam.
Naquele dia decidi entrar na cozinha e explorar os sabores que os servos conheciam quando estavam livres dos gestos de submissão calculada. O ambiente estava tomado por um cheiro picante e ao mesmo tempo adocicado. Muito diferente da comida servida todos os dias no almoço e jantar, pois meu marido, desculpe, meu senhor, não podia com muito sal, nem com pimenta, alho, cebola, cravo, alecrim...nosso cardápio diário era tão tedioso quanto a própria vida.
Foi aquele sopro que me despertou para o aroma que vinha da cozinha já tarde, quando eu, com uma insônia crônica, passava as noites a me perguntar se a vida era só aquilo mesmo. Me aproveitei do susto dos servos quando adentrei o ambiente proibido da cozinha, numa noite sem lua, e ordenei que preparassem a receita que me atormentava há dias. Queria saborear aquele quitute de aroma doce e picante. Os servos hesitaram por um momento, mas percebi um brilho diferente, no tempo de um instante, nos olhos da senhora de longos e negros cabelos que preparava a comida, a nossa e a deles.
O que ela me serviu foi um caldo avermelhado, que duvidei ser o dono daquela aroma. Falei um pouco alto, não tanto que acordasse meu marido, mas o suficiente para assustá-los e fazê-los entender que queria mesmo provar daquele misterioso sabor. Os outros se assustaram, mas a mulher não, me estendeu novamente o pote com o caldo avermelhado e sorriu maliciosamente. Levei lentamente o líquido quente a boca e provei. Um sabor mais picante que doce desceu minha garganta aquecendo meu rosto e fazendo minhas faces corar. E de repente me senti flutuar, não calmamente, mas em meio a um vento forte e refrescante, que revirou meus cabelos e o vestido de dormir. A mulher agora ria indisfarçadamente um riso alto e sonoro, e da boca dela saiam borboletas prateadas e douradas, milhares delas, que me envolveram tocando minha pele e me fazendo arrepiar. Eu ouvia a música que saia da risada dela e sentia o arrepio das borboletas, e foi então que tive a sensação do sonho e o mesmo sopro me fez lembrar do toque dos mágicos insetos.
A confusão despertou meu marido que desceu chamando pelos guardas. Quando ele chegou, eu já estava no chão, os cabelos revirados, o vestido bagunçado deixando minhas pernas quase que totalmente a mostra. Percebi então, pelo espanto e indignação de seu rosto, que eu estava só. Todos os servos haviam fugido. Imediatamente ele expulsou os guardas ordenando que esquecessem aquela cena. Admiravelmente não senti medo algum, uma sensação de liberdade infinita tomava conta da minha mente. E antes que ele pudesse falar qualquer coisa, acabei de tirar meu vestido e o envolvi com meu corpo...
Aquele foi o último dia que o vi. Hoje sou parte do vento, e não tenho um senhor. Mas visito, em noites sem lua, um cavalheiro solitário, que emana de seu corpo uma energia poderosa, que é viril mas se entrega a mim como um menino, curioso em desvendar meus sentidos. E que tem o poder de ouvir os segredos do vento quando repousa seu rosto em meus seios após uma noite de amor.
(Orieta Valentim)
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